Poeta: sujeito que costuma comparecer aos próprios desencontros.

Manoel de Barros


segunda-feira, 2 de abril de 2012

Confissão



Porque o seu silêncio me gritava tanto aos ouvidos, que não podia deixar de ouvir sua voz muda de mim.  Porque o meu silêncio tinha uma escuta perversa que ela ouvia. Porque me invadia. Porque sua distância era mais próxima do que a minha. Como uma sombra, pronta a se fazer presença no momento mais inesperado. Temia o susto. Sua investida, sua fala, suas ideias batidas. Temia sua transformação em realidade. Temia a realidade que trazia nos olhos, nos ombros, nas marcas do rosto. Temia sua força disfarçada de criança. O simples. Sua escrita. Sua dança. Temia-na inteira. Porque existia em si. Porque tocava o chão com pés descalços. Temia seu jeito tão seu de ser potência e realidade num só ato. Foi por isso doutor, foi só por isso que a matei e a guardei no profundo mais escuro surdo e mudo de dentro de mim.


Um comentário:

  1. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir