Poeta: sujeito que costuma comparecer aos próprios desencontros.

Manoel de Barros


quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Dos tropeços


Tinha tanta certeza que a resposta viria de longe, 
que nunca olhou seus pés tocando o chão. 
E seguiu tropeçando nas mesmas pedras...



quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Aos Distantes


Distância não se mede em quilômetros.
Mas em ausências.
Distante longe. Distante ao lado.
O não querer mede distâncias.
O não olhar confirma ausências.
Quando não se cabe mais na experiência do outro;
Quando não há mais espaço e sua presença se torna invasão;
No lugar do que já foi, assume o que não é.
Cadeira vazia e vida lotada.
O mundo segue a girar...
São muitos passos, e o caminho é longo.
Sem tempo de olhar pra trás;
Afeto morto vira lembrança.
Presença ausente vira distância.
E o tempo se encarrega de enterrar o que sobrou.

...

Assim caminha a humanidade.
Com pressa e ausência.
Escassas presenças...
Distante. 


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

As duas dores

Esquecer se torna a única saída para o agressor quando o espelho se quebra com sua imagem refletida.

Lembrar se torna o único álibi do agredido quando lhe faltam forças para olhar seu rosto no espelho.

E o espelho, continua lá. Sem julgamento. Apenas refletindo as duas dores.







quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Triângulo amoroso


Eram três.

Eles dois, 
e o abismo entre.









terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Pequeno retrato da vida comum


Sábado a noite:  após inúmeras tentativas de contato, mensagens e emails ignorados, cutucadas sem resposta, ela se convenceu. Não cabia dentro da experiência dele. Tomou sua decisão. Bloqueou aquele nome da sua lista de contatos. Excluído, agora era um sujeito morto em sua experiência. Morto por um clique.


Segunda de manhã:  acordou cedo pra comprar pão. Triunfante por matar o sujeito que a ignorava, e nunca mais tentar estabelecer contato sem resposta. Que ironia. Na mesma fila do pão, eis que esbarra no defunto. Atônita, foi pra casa. Sem o pão e sem contato. O afeto mora na vida comum. E a vida comum é muito maior do que seu clique.



sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O outro lado da porta



Desconhecia o outro lado da porta. Tinha medo de sair de casa, esquecer a chave dentro e nunca mais conseguir voltar. Um dia, acordou antes de si. Caminhou até a porta, e saiu. Não esqueceu a chave dentro. Não ficou trancada na rua. Mas tocou o outro lado. E nunca mais voltou.