Poeta: sujeito que costuma comparecer aos próprios desencontros.

Manoel de Barros


quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Dos tropeços


Tinha tanta certeza que a resposta viria de longe, 
que nunca olhou seus pés tocando o chão. 
E seguiu tropeçando nas mesmas pedras...



quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Aos Distantes


Distância não se mede em quilômetros.
Mas em ausências.
Distante longe. Distante ao lado.
O não querer mede distâncias.
O não olhar confirma ausências.
Quando não se cabe mais na experiência do outro;
Quando não há mais espaço e sua presença se torna invasão;
No lugar do que já foi, assume o que não é.
Cadeira vazia e vida lotada.
O mundo segue a girar...
São muitos passos, e o caminho é longo.
Sem tempo de olhar pra trás;
Afeto morto vira lembrança.
Presença ausente vira distância.
E o tempo se encarrega de enterrar o que sobrou.

...

Assim caminha a humanidade.
Com pressa e ausência.
Escassas presenças...
Distante. 


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

As duas dores

Esquecer se torna a única saída para o agressor quando o espelho se quebra com sua imagem refletida.

Lembrar se torna o único álibi do agredido quando lhe faltam forças para olhar seu rosto no espelho.

E o espelho, continua lá. Sem julgamento. Apenas refletindo as duas dores.







quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Triângulo amoroso


Eram três.

Eles dois, 
e o abismo entre.









terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Pequeno retrato da vida comum


Sábado a noite:  após inúmeras tentativas de contato, mensagens e emails ignorados, cutucadas sem resposta, ela se convenceu. Não cabia dentro da experiência dele. Tomou sua decisão. Bloqueou aquele nome da sua lista de contatos. Excluído, agora era um sujeito morto em sua experiência. Morto por um clique.


Segunda de manhã:  acordou cedo pra comprar pão. Triunfante por matar o sujeito que a ignorava, e nunca mais tentar estabelecer contato sem resposta. Que ironia. Na mesma fila do pão, eis que esbarra no defunto. Atônita, foi pra casa. Sem o pão e sem contato. O afeto mora na vida comum. E a vida comum é muito maior do que seu clique.



sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O outro lado da porta



Desconhecia o outro lado da porta. Tinha medo de sair de casa, esquecer a chave dentro e nunca mais conseguir voltar. Um dia, acordou antes de si. Caminhou até a porta, e saiu. Não esqueceu a chave dentro. Não ficou trancada na rua. Mas tocou o outro lado. E nunca mais voltou.






quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Das medições 2 ...


... e com quantas ausências de olhar
se mede o tempo de vida
da flor que ninguém
nunca viu?


.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Das diversas formas de se deixar

Sabia que existiam diversas formas de se deixar. Escolheu a sua. Jogou tudo fora e sumiu. Das diversas formas de deixar uma história, a sua, implicava em fazer de conta que ela nunca existiu. Decidido, foi embora. No lugar, na história e no buraco de um sentimento, ficou a forma. Vazio 




*

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Da pré-estreia



Já tive filhos,
Já escrevi artigos,
Já plantei árvores.

E sigo com a sensação de que ainda nem comecei...



quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A borboleta preta


Acreditava que borboletas eram flores voadoras. Que viviam para encantar os homens com seu vôo colorido. Um dia, fiz amizade com uma delas. Todinha preta! Sem colorido algum em suas asas. Uma borboleta silenciosa de cor. Seu silêncio destruiu minhas crenças e quebrou meu espelho. Para voar, não era preciso se fantasiar de flor. Para ser viva, não era preciso encantar os homens... 








sexta-feira, 11 de novembro de 2011

11.11.11




E foi assim, chegou o dia, 
mas o fim não chegou.
voltamos todos 
a ter que enfrentar 
nossos próprios finais.



*

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A Bolha

Cada vez que o mundo assustava
Corria pra dentro da bolha
E voltava a erguer o seu muro.


Fazia de conta que não doía
Fazia de conta que o coração dormia
Fazia da bolha, mundo seguro.


Transformava tudo lá fora
Miragem longe dos olhos
No céu de quem não pode voar.


Grande demais para o seu medo
Um céu feito pra não viver
Vida imensa pra ver passar.


...


Dizem que não morreu.
Adormeceu dentro da bolha
E fez de conta que sonhava.
Enquanto a vida lhe escapava
Por entre os dedos dos nãos...


.







quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Quando a imagem cala a palavra


Quando a imagem cala a palavra,
retornamos à nossa mera insignificância
de um sonho frustrado do controle de tudo. 
Os discursos se recolhem, as certezas se retraem.
Quando a imagem cala a palavra, 
fica difícil olhar esse espelho 
e fazer de conta que não dói.


sábado, 15 de outubro de 2011

O poeta


O poeta é uma criança com uma lupa na mão.
De vez em quando, suspende o tempo com os dedos,
 destaca um pedaço do mundo, e diz: olha!

*

Gabriela faz poesia.
Queria conhecer a morte 
pra poder lembrar de tudo.
Queria ser cobra, pássaro, gato;
Queria se transformar no mundo.
Recentemente, sentiu um tum tum tum batendo na testa.
Concluiu que tem outro coração morando por lá.
Hoje vive com dois corações em sua poesia.



Ana faz poesia.
Sabe que o tempo caminha as idades,
sabe que feridas se curam, 
e sabe doer sem ter que sangrar.
Recentemente, me ensinou a ser poeta;
Chamou pra olhar a lua,
segurou na minha mão
e não disse uma palavra.
Ainda hoje, a lua sente o seu silêncio.

*

O poeta é uma criança curiosa.
Segura o giro do mundo, 
e nos sacode dessa adultice 
...

E levanta uma poeira danada...
De tanta coisa parada...
Que só mesmo uma criança 
teria força de tocar.


*


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Das Medições...



... e com quantos silêncios 
se mede a distância 
entre dois afetos 
mortos?





O Cocô e a Coisa



Sentiu então, que era o cocô do cavalo do bandido. O bandido era a imagem ruim em essência. Seu cavalo, apenas instrumento de fuga. E o cocô, tudo aquilo que não presta mais. Era ela. Morrendo de pena de si mesma. Um nada que não presta mais. Nem para um instrumento de fuga, quiçá para o autor do roubo. Sem atitude, permaneceu cocô. Primeira regra da interação humana: toda poesia desaparece quando permitimos tornarmos coisa na vida de alguém.




.

sábado, 1 de outubro de 2011

Pequena história de um afeto morto

Esperava a melhor forma de dizer. Enquanto isso, não dizia nada. Esperava um dia ter tempo pra conseguir responder... Sem achar a melhor forma e o tempo que buscava, tornou-se ausência. Inocente era em não saber que toda ausência mata o afeto. E ser ausente é uma escolha. Escolheu ser assim. Assim matou o outro de sua vida. De esperar a melhor forma. De esperar um dia ter tempo. De esperar ter vontade. De fraco, o afeto morreu.  Por falta de forma sua, foi essa a forma que o tempo deu.

Fim.

*


quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A árvore


Vivia de acreditar nos outros.
das cartas de tarô, aos búzios da mãe Joana.
da propaganda na TV às promessas dos meninos.
Vivia de acreditar...

Envelhecia de esperar pelos outros.
pelo amor que não chegava.
pela vida que não melhorava.
pela sorte que não mudava.
Envelhecia de esperar...

Dizem que não morreu. Virou árvore.
De raízes cravadas no chão.
Por des-coragem e des-movimento,
ficou presa àquele lugar.

Árvore velha e seca de nãos.
de crenças vazias
de espera infinita
de morte de si.

*



segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Fênix

É hora de juntar os cacos. 
Tirar o pó do que ficou guardado.
Hora de se revelar. 
É hora de limpar a casa,
lavar a roupa, o rosto, a alma. 
Hora de acordar o sol. 
É hora de descer do muro,
consertar o que está quebrado 
e se despedir do que de fato,
já não tem mais como ajeitar. 
É hora de fechar os ciclos, 
atravessar suas mortes,
abrir outras janelas
e deixar a brisa entrar. 
É hora de encarar a vida
aceitar as despedidas.
Hora de deixar partir,
sem saber se um dia voltará.
É hora de pedir ajuda dentro
É hora do des-conserto.
Hora de ser você. 
É hora de matar a culpa.
É hora de afogar as penas,
 e parar de se adiar.
É hora de aceitar o espelho,
as rugas, defeitos, pretextos.
E deixar o fogo queimar.
É hora de inventar  novas perguntas  
e esquecer respostas cansadas. 
Hora de voltar a sonhar.
É hora de desestabilizar o certo,
e questionar o que está há tempos
parado no mesmo lugar. 
É hora de olhar a lua, a rua, os olhos. 
Hora de recriar o amor.
É hora. Agora. E já faz tempo que é... 
É hora de girar o mundo.
É hora de deixar pra lá.
Andar descalço, sorrir sozinho, 
ser você o seu grande amigo.
É hora de se bastar.
É hora de parar os relógios
e suspender o tempo.
Hora de respirar.
É hora de preparar o vôo,
Fazer do medo sua coragem.
É hora de voltar pro céu.
Hora de se reinventar. 

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Autoria



Está no mundo. Tire a máscara. Diga a que veio.
Um homem que não é autor de seu discurso
Não é autor de sua própria existência.
Incapaz de assumir o que diz,
Se tem caráter, 
silencia.






.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

In-Comunicação

Jogar uns versos na parede vazia,
Escrever cartas e lançá-las ao mar,
Ou tentar falar contigo,
Tudo a mesma coisa.
Sempre a velha sensação
De que a mensagem vai
Não se sabe pra onde
E a resposta nunca volta.
O silêncio e a distância
Ditam nossa in-comunicação.
Não. Não é só falta de tempo.
Estar disponível ou deixar de existir
É também uma questão de escolha.
E não há prosa, poesia ou paciência
Nada no mundo que sobreviva
a uma parede esvaziada 
pela opção de ser ausente.




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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O homem e as borboletas 2

Ele ligou e disse coisas bonitas. Ela acreditou. Decidiu pousar. Depois do beijo, do carinho; depois do sexo e de mais palavras bonitas, borboleta no pote de vidro pra compor a coleção. Mas bicho preso perde a cor e a graça. E não sabia amar borboleta sem cor. Tornou-se indisponível. Ela o procurou algumas vezes ainda; então, desistiu. Que pena. Não soube enxergá-la. Tinha cor e asas, viu apenas uma borboleta de coleção. Indisponível, continuou cercado por borboletas coloridas, mas um dos seus potes de vidro guarda hoje um pássaro morto. 


*

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Desencontro



Um dia, ele cansou de olhar pro céu em busca de resposta. 
Um dia, ela cansou de esperar que ele a olhasse.
Entre a não-resposta e o não-olhar, ela partiu.
E quando ele enfim, lembrou de olhar pro lado,
Já não havia mais ninguém ali.



domingo, 21 de agosto de 2011

A vida como ela é



Nem cor-de-rosa, nem cor-de-nada.
É como é.
Da cor das nossas escolhas.


. . .


Sabiam-se iguais.
Mas escolheram ser diferentes.
Olhar o outro e reconhecer a si mesmo era difícil demais.
Desistiram-se.
E a vida seguiu em frente.

. . .

Nem boa, nem má.
É a vida.
Do jeito que a inventamos
E reinventamos
Todos os dias.




quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O pássaro que desaprendeu

O pássaro que desaprendeu
Encerra-se em sua gaiola
Vê a porta aberta,
e não voa.


domingo, 14 de agosto de 2011

O não-lugar

O não-lugar é uma expulsão. É um convite para sair de cena. E dói recebê-lo. Dói tanto quanto a dor de um parto, a expulsão da barriga da mãe para o mergulho num mundo desconhecido e hostil, onde agora, somos nós que fazemos nossa própria história. Nós e mais ninguém. Não sei se o bebê chora de dor de abrir o peito quando nasce, ou de medo de encarar o mundo como ele é. Pois fazer sua história com as próprias mãos, e sozinho, dói. Sair da barriga dói. Assinar a autoria de sua existência é nascer para um mundo onde já não cabe mais culpar a vida e o destino. Isso assusta. O conforto da barriga da mãe, tal qual o esconderijo seguro dos momentos de carinho, é tão melhor do que o mundo lá fora... Não dá vontade de sair. Mesmo sabendo que uma hora precisa acabar, sempre queremos que essa hora demore um pouco mais. Mas algo acontece em volta; o útero contrai, a realidade da vida mostra os dentes, chamando-nos  à razão, e aquele lugar tão seguro, tão bom e tão seu, deixa de existir pra você. Ou melhor, não deixa de existir em si, mas lhe chega a notícia de que ele não é mais seu. Torna-se um não-lugar em sua vida. Torna-se o lugar do não. Não pertence mais a você. E se por algum momento você construiu seu eu baseado nisso, o não-lugar lhe transforma num não-eu. O chão desaparece e o que sobra é vazio. Cabe somente a você juntar seus cacos e se reconstruir em silêncio. É como olhar para o espelho mágico e perguntar: Existe alguém mais bela do que eu? E ouvir como resposta que o lugar da beleza não pode mais ser ocupado por você. Seja lá quem for a mais bela, não é você. E essa ausência é uma presença de solidão doída. A solidão de sair de cena mesmo sem querer sair. A solidão da madrasta quando se deu conta que não era mais bela aos olhos do espelho. A solidão de não ser a princesa do conto de fadas. No fundo sempre buscamos o olhar do outro como um espelho que diz: Tu és a mais bela! E ser convidada a sair desse lugar, corta o sonho no meio, é o espelho desistindo de te olhar. E o não-olhar dói. Mesmo sabendo que uma hora a música precisa parar de tocar para que a dança inevitavelmente acabe. Mas receber da vida um não quando pra você a música ainda toca, parar de dançar por medo das consequências da própria dança, dói. Dói porque a dança para, mas a música ainda continua a tocar por algum tempo. Dói porque o conforto lhe expulsou e disse que ali não era mais lugar pra você. E fora da barriga, o mundo é frio e nem sempre você se sentirá belo e desejado. Dói e doerá por tanto tempo quanto a música ainda tocar, lembrando que você costumava dança-la, e que nesses momentos você era imensamente feliz. Dói e doerá tanto tempo quanto você olhar no espelho e saber que não lhe cabe mais perguntar: Espelho, espelho meu... Dói menos a despedida. Dói menos ir embora. Dói menos estar sozinho. Da dor do não-lugar, no fundo o que mais dói, é o não-olhar.


*

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Menino que cresce


Acorda menino pra viver o dia.
A vida chama em suas realidades
Mas não diz o preço de estar crescido.
Deita na cama o que restou do homem.  
E suas angústias invadem a noite.
Menino que cresce não consegue dormir.

.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A saga do corredor



Dizia que corria o mundo atrás de ser feliz. Mas a felicidade lhe era insuportável demais em sua intensidade. Então corria mais. Para não se demorar; nem em si, nem nos outros. E antes mesmo de se tornar importante na vida de alguém, antes de querer ficar, se despedia e voltava a correr...  


*

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Esconderijo seguro é barriga de mãe




"Esconderijo seguro é barriga de mãe"

Bianca Becker
2011
técnica: dedo no touchpad


*

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Receita adulta


Corra apressado pra não sobrar nenhum tempo.
Trabalhe demais pra não ter que pensar.
Elimine problemas. Responda perguntas.
Desvie do espelho pra não se encarar.

Vire mais rápido as páginas do livro.
Insista nas tais decisões racionais.
Negue afetos. Aborte atitudes.
Não deixe ninguém à espera no cais.

Não ligue, escreva ou mande notícia.
Deixe o tempo passar por você.
Seja sensato. Desista. Respire.
Faça de conta que pode esquecer.

E se o escuro da noite insistir na cobrança
Do que não viveu e escolheu não sentir
Apague os momentos de sua memória
Poemas, mensagens, pessoas, histórias.
Desligue a luz, e tente dormir.


                 
                     *

terça-feira, 19 de julho de 2011

1 + 1



1 + 1
Bianca Becker
2011

técnica: dedo no touchpad


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sábado, 16 de julho de 2011

Despedida



Por respeito.
Por carinho.
Por irmandade.
Voa.





terça-feira, 12 de julho de 2011

Suspiro


O sol encontrou um suspiro de tempo pra dividir o mesmo céu com a lua. Só um suspiro. E tudo voltou a rodar. O sol voltou para o dia. A lua voltou para a noite. Assim nasceu o universo. Entre a partida e a chegada; um suspiro de tempo. 



sábado, 9 de julho de 2011

Primeira Lição



Atenta, a menina que queria dançar, 
ouviu sua primeira lição; 
Saber cair sem culpar ninguém 
e confiar em seus próprios pés para levantar. 



segunda-feira, 4 de julho de 2011

Dois pássaros



Eram dois pássaros. 
O medo de partir e o medo de ficar.
Um dia se reconheceram e se assustaram. 
Um se viu no sonho do outro.
E o mundo nunca mais girou igual.




sábado, 2 de julho de 2011

Sobre príncipes e confusões


Sou filha de uma geração que acreditava. Esperei pelo príncipe, seu cavalo branco, algumas promessas de amor e um final feliz. Cresci confundindo homens e príncipes; palavras bonitas e promessas de amor. Acreditava que finais podiam ser felizes; cresci confundindo os sinais. Hoje olho para os cavalos brancos e eles estão sós. Nem príncipe, nem promessa de amor, nem final feliz. Apenas uma insistente espera; um livro fechado e a certeza de que homens, palavras bonitas e cavalos brancos, estes sim, existem. Mas quase nada entendem de amor...    



sábado, 25 de junho de 2011

俳句 - haikai


ENTRE A CRUZ E A ESPADA;
A ESTRADA.


...

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O homem e as borboletas



Dizem que colecionava afetos como quem colecio­­­­­­­­na borboletas em potes de vidro. Sabia as palavras, os sorrisos e os olhares. Gesto perfeito, borboleta no pote. Dizem que era feliz... Morreu só; olhando o mar. Cercado de borboletas coloridas. Mas com a cadeira ao lado vazia.




terça-feira, 21 de junho de 2011

vai encarar ?


 “O olho é a janela da alma, o espelho do mundo” 
(Leonardo da Vinci)


segunda-feira, 20 de junho de 2011

Das regras do jogo: o impedimento



Não. Impedimento não é somente a décima primeira regra do jogo. É mais. Muito mais que um jogador mais próximo ao gol contrário do que a bola e o penúltimo adversário. Mais que uma imagem, de milímetros medidos por tira-teima. Mais do que horas polêmicas na mesa de bar, de comentários especializados se foi ou não foi, se a zaga dava condição, ou se o atacante participava mesmo da jogada... Mais que uma posição, o impedimento é um lugar. O lugar aonde não se vai, no instante em que não se pode ir. Justamente porque sua presença lá seria injusta, indefensável. Impedimento é um não. Não avance. Não entre. Não prossiga. É uma placa dizendo: Pare, respire e espere a defesa do outro chegar. Porque você é ataque agora, mas certamente será atacado em segundos. Mais do que uma regra discutível entre meninos e cerveja, o impedimento é um pacto. Um acordo entre guerreiros, de que só se avança até onde ambos concordarem existir jogo.


sábado, 18 de junho de 2011

Nudez

Um dia,  perguntou ao espelho o que ele achou de seus escritos. 
Ele precisou respirar antes de responder.
Havia lido sua alma...


Balthus, Nu Diante do Espelho, óleo, 1955

sexta-feira, 17 de junho de 2011

A coleção do caçador



Cabeça de caça na parede. Mais uma história pra contar. Corria para o velho caderno e fazia um risquinho. Orgulhoso, expunha a arma, chamava os amigos, brindava a bravura; e por longos instantes era feliz. Mas quando a noite chegava, sozinho, voltava a lembrar que ele próprio, também era mais um risquinho no caderno de alguém. Calado, recolhia a festa, trancava a porta, deitava na cama, fechava os olhos. E não dormia.



segunda-feira, 13 de junho de 2011

ESPELHO


No dia seguinte, tudo amanheceu igual.
O sol, o céu, as coisas.
Menos ela.
E seu espelho sabia.
Impossível sair isento
de um encontro consigo mesmo.




*

quinta-feira, 2 de junho de 2011

ALGO

Há algum motivo para as coisas acontecerem desse jeito. 
Arrastado. Enrolado. Demora, vai, volta, para, volta, vai... 
Como um alerta urgente pra parar o movimento, um pedido de respiração.
Mesmo que a vida continue avançando e atropelando tudo pela frente,
seguimos parados aqui, as vezes doidos pra partir junto com essa bagunça.
Com todas as decisões urgentes que nos aguardam sentença.
Mas uma corda nos envolve no tempo presente e nos impede de seguir mais rápido.
Amarrados aqui e agora, nos vemos obrigados a deixar as ondas continuarem seu rumo.  
Mesmo quebrando sobre nossas cabeças. Mesmo tirando nossa paz.
Impedindo nosso sono adulto, ainda que  intranqüilo, cansado e já sem sonhos.
Há algo que sopra nos ouvidos dizendo: Fica.
Talvez algo que deixamos no caminho enquanto corríamos atrás do tempo em busca do amanhã.
Algum pedaço de vida que deixamos no passado e esquecemos de olhar.
Algum detalhe do cenário, uma flor, um pôr do sol, uma dor, uma imagem.
Por mais que os ponteiros girem alucinados, 
por mais que nossa pressa nos traga desespero por não seguirmos correndo, 
Persiste algo que nos segura aqui e pede pra ser notado.
Talvez seja hora de se fechar os olhos,
e olhar.


quarta-feira, 1 de junho de 2011

NA DIVISA


VIVENDO O MOMENTO EXATO
ENTRE ONTEM E AMANHÃ.
NA DIVISA 
O ANTES, O DEPOIS,
E O ENCONTRO.




*

sábado, 28 de maio de 2011

das danças

Dança a dança. parada que anda. corrida muda. confusa e surda. dança o caminho de pó e cinzas. dança a partida. despede vida. dança o vento. o vôo lento. relógio para. o tempo não. dança a pessoa. corrida rota, rotina louca. despista o chão. dança o que é. dança o que há. dança o que ainda está pra chegar. dança a espera. a pressa. o atraso. o fundo. o raso. afunda no ar. dança a paragem. dança desistência. o sim da existência. dança negação. dança o medo. o segredo. o indeciso. dança o silêncio. o grito contido. dança o que fui. dança o que sou. dança a dança do que nos sobrou. dança a palavra. a promessa. os filhos. dança o repouso. dança o amor. dança a morte. a sorte. a mão. dança oração. os deuses. o cão. dança o planeta. sistema. infinito. o louco. o aflito. os seres e eu. dança a dança. parada que anda. dança aquilo que já seu perdeu...  

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Naufrágios...

Era uma vez um navio que afundava...
O comandante fechou sua mala rapidamente,
catou seus pertences e cicatrizes, e sumiu.
Era uma vez um navio sem comando, que afundava.
Desistiu.
Ninguém sobreviveu.


Era outra vez, um navio que afundava...
O comandante fechou os olhos, e não fez nada.
Deixou-se morrer.
Era uma vez um navio e um comandante, que afundavam.
Desistiram-se.
Ninguém sobreviveu.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Na paciência de uma fera

Pare pra aprender a esperar
Corra pra não ser atropelado.
E a vida gira em contradição
Um pé em cada chão, 
um coração em cada lado.


Cale-se pra poder ouvir
Publique, ou morra calado
Avance, retraia, desista
Retorne, encolha, insista
Juntando os cacos do passado.


Grite mudo, aguarde partindo
Entre a pressa e a longa espera...
Corre o tempo em lentidão
Seguindo a vida, de não em não
Na paciência de uma fera.

quarta-feira, 23 de março de 2011

SÓ E ENTRE

SÓ E ENTRE.
SOMENTE.
SÓ.
OLHA PRA FORA.
TODOS.
ENTRE.
OLHA PRA SI.
MENTE.
SÓ.
TIRO OS SAPATOS?
A MÁSCARA.
A ROUPA.
A ALMA.
ENTRE SÓ.

sábado, 12 de março de 2011

DAS PRISÕES

                             


              De olhares
              De julgamentos
              De paredes brancas
              De portas abertas
              De medos
              De expectativas
              De etiquetas
              De linguagens
              De comportamento
              De coerência
              De ser.
              Prisioneiro
              de suas escolhas.


                      

domingo, 6 de março de 2011

oito de março




No Dia 8 de março de 1857, operárias de uma fábrica de tecidos, situada na cidade norte americana de Nova Iorque, fizeram uma grande greve. Ocuparam a fábrica e começaram a reivindicar melhores condições de trabalho, tais como, redução na carga diária de trabalho para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas de trabalho diário), equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de trabalho) e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho. As mulheres foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada. Aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas.



Essa é a história do Dia Internacional da Mulher.

Hoje, mudou muito?
Ou a mulher, pra se sentir valorizada, precisa tirar a roupa e rebolar? Pense nisso. Olhe pro lado. Faça alguma coisa. Qualquer coisa. Só não dá mais pra fingir que não está vendo. Só não dá mais pra fingir que não faz parte disso.








Sobre mulheres e hipocrisias.




Sakineh Mohammadie Ashtiani, 42 anos, mãe de dois filhos. Crime: adultério. Irã. 2010. Aguardando julgamento. Pena de morte por apedrejamento. .


Para pensar um pouco sobre mais essa hipocrisia, John Lennon.