Poeta: sujeito que costuma comparecer aos próprios desencontros.

Manoel de Barros


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Quando a imagem cala a palavra


Quando a imagem cala a palavra,
retornamos à nossa mera insignificância
de um sonho frustrado do controle de tudo. 
Os discursos se recolhem, as certezas se retraem.
Quando a imagem cala a palavra, 
fica difícil olhar esse espelho 
e fazer de conta que não dói.


sábado, 15 de outubro de 2011

O poeta


O poeta é uma criança com uma lupa na mão.
De vez em quando, suspende o tempo com os dedos,
 destaca um pedaço do mundo, e diz: olha!

*

Gabriela faz poesia.
Queria conhecer a morte 
pra poder lembrar de tudo.
Queria ser cobra, pássaro, gato;
Queria se transformar no mundo.
Recentemente, sentiu um tum tum tum batendo na testa.
Concluiu que tem outro coração morando por lá.
Hoje vive com dois corações em sua poesia.



Ana faz poesia.
Sabe que o tempo caminha as idades,
sabe que feridas se curam, 
e sabe doer sem ter que sangrar.
Recentemente, me ensinou a ser poeta;
Chamou pra olhar a lua,
segurou na minha mão
e não disse uma palavra.
Ainda hoje, a lua sente o seu silêncio.

*

O poeta é uma criança curiosa.
Segura o giro do mundo, 
e nos sacode dessa adultice 
...

E levanta uma poeira danada...
De tanta coisa parada...
Que só mesmo uma criança 
teria força de tocar.


*


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Das Medições...



... e com quantos silêncios 
se mede a distância 
entre dois afetos 
mortos?





O Cocô e a Coisa



Sentiu então, que era o cocô do cavalo do bandido. O bandido era a imagem ruim em essência. Seu cavalo, apenas instrumento de fuga. E o cocô, tudo aquilo que não presta mais. Era ela. Morrendo de pena de si mesma. Um nada que não presta mais. Nem para um instrumento de fuga, quiçá para o autor do roubo. Sem atitude, permaneceu cocô. Primeira regra da interação humana: toda poesia desaparece quando permitimos tornarmos coisa na vida de alguém.




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sábado, 1 de outubro de 2011

Pequena história de um afeto morto

Esperava a melhor forma de dizer. Enquanto isso, não dizia nada. Esperava um dia ter tempo pra conseguir responder... Sem achar a melhor forma e o tempo que buscava, tornou-se ausência. Inocente era em não saber que toda ausência mata o afeto. E ser ausente é uma escolha. Escolheu ser assim. Assim matou o outro de sua vida. De esperar a melhor forma. De esperar um dia ter tempo. De esperar ter vontade. De fraco, o afeto morreu.  Por falta de forma sua, foi essa a forma que o tempo deu.

Fim.

*