Poeta: sujeito que costuma comparecer aos próprios desencontros.

Manoel de Barros


segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

carnaval e cinzas

...nem sempre a festa é dentro.


Segunda feira.
Quinta é carnaval em Salvador.
Mas a cidade já acordou cantando.
Pulos e urros pra fora,
uma necessidade urgente de comemorar algo
que eu não vi acontecer.
Uma alegria explosiva que não sinto.
Como se eu tivesse dormido 
e perdido a passagem do cometa.
O que sinto é a maré da contramão.
Sinto o cansaço de nadar contra.
Quero mais é pular pra dentro.
Quero mais é gritar sem som.
encolher... esquecer...
e sumir.
E quando a quarta de cinzas anunciar
que é hora de emudecer a festa,
então acabou.
Quero colocar os olhos pra fora da casca
e ver que lá fora
no mundo que passa sem mim
meus trinta e um carnavais se completam.
sem festa,
sem som.
Sentido.
Os trinta e um chegam catando lata,
limpando a sujeira que ficou no chão
com o cheiro podre de xixi.
O anúncio que o carnaval morreu
pra renascer ano que vem.
Sem ter, no entanto, a certeza,
de que conseguirei renascer junto com ele.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Quando acaba...

Assim se morre.





Assim se esquece 
.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Seu filho já lhe perguntou quem é Deus?


Desconsolado
Cascadura
Composição: Fábio Magalhães
Deus é o Amor, filho
E o Amor é um deus que me basta
É o que nos tem valido
No curso de uma trilha amarga
Mas há um deus que muitos tentam me vender e que não nos conduz
Justo porque, quase nunca ele nos vê, cego com a própria luz
Como acreditar nisso
Que castra, que pune e mata
Homens são homens, filho
São homens e são mais nada
Propõem ao desvalido que o seu sofrer
Seja o passe da sua salvação
Um deus de medo e castigo
E o medo pra mim é a danação
Esse é um deus que muitos tentam me vender e que não nos conduz
Justo porque, quase nunca ele nos vê, cego com a própria luz
E desconsolado...
É cá um deus que muitos tentam me vender e que não nos conduz
Justo porque, quase nunca ele nos vê, cego com a própria luz