Poeta: sujeito que costuma comparecer aos próprios desencontros.

Manoel de Barros


segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O silêncio e a dança... fragmentos




O silêncio que rodeia quem ouve nunca é total. Sua memória auditiva impede que esqueça: não pode esquecer a música, as vozes, os ruídos, as palavras, toda essa massa corporificada de sons que o envolve. 


(...)


Nossa forma de vida nos faz esquecer a comunicação que existe entre o silêncio e o corpo. E é dessa forma que, reconhecendo as possibilidades expressivas do silêncio, podemos, inclusive, reconhecer e ir ao encontro de nosso próprio equilíbrio, desenvolvendo-o também nos outros.


(...)


Para atingir o ritmo não-audível é necessário rastrear outra dimensão do movimento, e nossos corpos, nossa mente, aquilo que somos como seres humanos deve sensibilizar-se, deve compreender, deve perceber para chegar a esse encontro.


(...)


Essa linguagem não-verbal é de uma riqueza enorme e denota os estados interiores, ou seja, nosso mundo interno; e faz com tal expressividade que se o analista, o psicólogo ou o psiquiatra pudessem reconhecê-lo, conheceriam mais seus pacientes assim do que através da palavra.


(...)


Dançando de dentro para fora e reconhecendo-nos através de nossos corpos, sentimo-nos melhor. Primeiro nos aceitamos e depois aos outros.  A dançaterapia é um caminho aberto a uma integração total, já que o corpo assim estimulado faz aparecer áreas adormecidas que nos transformam; ao expressá-las, representamos nosso mundo oculto e nos sentimos  melhor.



Maria Fux


Fragmentos do livro "DançaTerapia" - da bailarina argentina  Maria Fux, escrito em 1982 sob o título original  Primer Encuentro con la Danzaterapia.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Jung...


"Conheças todas as teorias, domine todas as técnincas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana." 


Carl G. Jung

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A dança como possibilidade



Sim, a dança criativa. 
Como ato criativo da descoberta de mim mesmo e do mundo. 
Espontânea. Livre. Potencilizadora. 
A dança expressiva, como arte da existência.
Mas e se de repente, paro e penso sobre o meu dançar?
E decido refletir sobre o movimento que acabo de lançar?
E teorizar sobre o que, porquê e como?
E penso se meus movimentos são criativos e ou se são repetições? 
Se são mecânicos ou livres? 
Se meus passos pertencem a uma tradição, ou se acabo de inventá-los? 
Se o que faço é padronizado ou se não? 
Se minha dança é uma convenção ou não? 
E se ...



... Aí talvez eu não me permita dançar. 
Pela obrigação da criatividade permaneço parado... sentado na cadeira .... assitindo ... pesado de questionamentos.
E quem é que quer ser criativo por obrigação. 
Melhor é ser por libertade. E por prazer.
Mas se pensar no outro... No que ele pensa e o que vai achar ... 
Se parado ficar a pensar o que eu mesmo vou achar...
Assim... Com tanta complicação, jamais me dançarei. 
Melhor é deixar a teorização e a reflexão sentada na cadeira e ousar o ato.
Para o corpo pesado ousar um movimento que para o outro parece mecânico, pode ser o início de uma transformação.
Para aquele corpo que se manteve parado por medo, experimentar um movimento, por mais que nos pareça padronizado, pode significar um enorme ato de coragem.
É o primeiro passo para a dança perfeita. Para aquela que se perfaz como um fluxo de sempre novas possibilidades.    ...



                                             
...  E o que vem depois, não se pode saber.
Caso queira dialogar, não me pare de dançar.
Caso queira dialogar, faça-nos dançando.
E aí minha dança e eu mesmo estaremos transformados por tu, por nós.
Só tenho uma chance a cada novo segundo.
A chance de me manter aberto para dança da vida. 
A abertura para o novo que me supreende.
Descobri que não posso fazer isso parado, capengando. Só posso ter essa chance dançando.
Porque não posso escolher a hora do criativo, do encontro genuino desses movimentos, da transformação que está por acontecer.
Posso apenas ficar disponível. E farei isso dançando.  ...





... E a melhor forma de se manter aberto, receptivo, para uma dança criativa, expressiva, é dançando.
Porque "é melhor dançar com pés de chumbo, do que caminhar capengando" (Nietzsche)
E já que é para dançar....
"Tem que dançar dançando" (Jorde Ben Jor)  
Vou seguir o prazer... Dançar por prazer. 
Sem utilidade e sem propósito aparentemente criativo.
Pela emoção, pela aventura. Para zombar do medo de parecer ridículo.
Por pura disponibilidade para o encontro. Por afirmação da vida.
Pelo viva que dou a vida!


Rafael Belo