Poeta: sujeito que costuma comparecer aos próprios desencontros.

Manoel de Barros


quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A árvore


Vivia de acreditar nos outros.
das cartas de tarô, aos búzios da mãe Joana.
da propaganda na TV às promessas dos meninos.
Vivia de acreditar...

Envelhecia de esperar pelos outros.
pelo amor que não chegava.
pela vida que não melhorava.
pela sorte que não mudava.
Envelhecia de esperar...

Dizem que não morreu. Virou árvore.
De raízes cravadas no chão.
Por des-coragem e des-movimento,
ficou presa àquele lugar.

Árvore velha e seca de nãos.
de crenças vazias
de espera infinita
de morte de si.

*



segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Fênix

É hora de juntar os cacos. 
Tirar o pó do que ficou guardado.
Hora de se revelar. 
É hora de limpar a casa,
lavar a roupa, o rosto, a alma. 
Hora de acordar o sol. 
É hora de descer do muro,
consertar o que está quebrado 
e se despedir do que de fato,
já não tem mais como ajeitar. 
É hora de fechar os ciclos, 
atravessar suas mortes,
abrir outras janelas
e deixar a brisa entrar. 
É hora de encarar a vida
aceitar as despedidas.
Hora de deixar partir,
sem saber se um dia voltará.
É hora de pedir ajuda dentro
É hora do des-conserto.
Hora de ser você. 
É hora de matar a culpa.
É hora de afogar as penas,
 e parar de se adiar.
É hora de aceitar o espelho,
as rugas, defeitos, pretextos.
E deixar o fogo queimar.
É hora de inventar  novas perguntas  
e esquecer respostas cansadas. 
Hora de voltar a sonhar.
É hora de desestabilizar o certo,
e questionar o que está há tempos
parado no mesmo lugar. 
É hora de olhar a lua, a rua, os olhos. 
Hora de recriar o amor.
É hora. Agora. E já faz tempo que é... 
É hora de girar o mundo.
É hora de deixar pra lá.
Andar descalço, sorrir sozinho, 
ser você o seu grande amigo.
É hora de se bastar.
É hora de parar os relógios
e suspender o tempo.
Hora de respirar.
É hora de preparar o vôo,
Fazer do medo sua coragem.
É hora de voltar pro céu.
Hora de se reinventar. 

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Autoria



Está no mundo. Tire a máscara. Diga a que veio.
Um homem que não é autor de seu discurso
Não é autor de sua própria existência.
Incapaz de assumir o que diz,
Se tem caráter, 
silencia.






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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

In-Comunicação

Jogar uns versos na parede vazia,
Escrever cartas e lançá-las ao mar,
Ou tentar falar contigo,
Tudo a mesma coisa.
Sempre a velha sensação
De que a mensagem vai
Não se sabe pra onde
E a resposta nunca volta.
O silêncio e a distância
Ditam nossa in-comunicação.
Não. Não é só falta de tempo.
Estar disponível ou deixar de existir
É também uma questão de escolha.
E não há prosa, poesia ou paciência
Nada no mundo que sobreviva
a uma parede esvaziada 
pela opção de ser ausente.




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