Poeta: sujeito que costuma comparecer aos próprios desencontros.

Manoel de Barros


quinta-feira, 26 de abril de 2012

12 anos



Será que ele vai na sua festa sábado? Sério? Ficou com quem? Ah, você tá brincando? Não... Desliga você primeiro... O que? Você disse o que? Já estudou pra prova? E eu me ferrei em Português. Não fui, estava de castigo ontem. Se minha mãe deixar, rola... Ai, não liga não! Ele não merece! Olha, preciso desligar, minha irmã está... essa m... de irmã! Mas olha, respondendo rapidinho a sua pergunta... Desliga que eu desligo... Não, desliga você primeiro... O que? Quer desligar, desliga. Estou lhe obrigando a ficar aqui é? Pode desligar. Não, não estou chateado. Amanhã na escola nem olhe na minha cara. Nada a ver, as vezes acordo meio mal. Já nem sei se tô mais afim de ir... Você vai? Claro, que vai, né? Então, achei que você ia desligar... Perdeu a coragem, foi? Sou o que? Repita isso, se tiver coragem! Não acredito que você... Me esquece no grupo de estudos. Ou pra ir no shopping com a galera. Na hora do trabalho em dupla, quero só ver... Vai fazer dupla com aquela chata, vai... E eu o que? Como você tem coragem? Aproveita e chama aquele seu amiguinho pra ensinar matemática pra você. Que ciúme? Se quiser, pode ir, nem ligo, você não faz a mínima falta e... o que? Alô? Alô? Não acredito... de novo não... de novo não... Será que um dia essa conversa vai crescer?...

(tu tu tu tu tu tu tu tu tu tu.....)

...



segunda-feira, 23 de abril de 2012

Tão forte


A porta fechada na cara bateu forte na parede.
Tão forte, 
que calou a vizinhança 
e estremeceu a cidade de si.
Tão forte,
que quase derrubou a casa,
quase parou o tempo,
quase o convenceu.
Tão forte,
que bateu 
e voltou a abrir.


sexta-feira, 6 de abril de 2012

Da cegueira



Então era você, o tempo todo ali?
Engraçado... Apressado, nem percebi.
Confundi com a paisagem morta
Enquanto fechava minhas portas
Em quanto cuidava de mim.



*

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Confissão



Porque o seu silêncio me gritava tanto aos ouvidos, que não podia deixar de ouvir sua voz muda de mim.  Porque o meu silêncio tinha uma escuta perversa que ela ouvia. Porque me invadia. Porque sua distância era mais próxima do que a minha. Como uma sombra, pronta a se fazer presença no momento mais inesperado. Temia o susto. Sua investida, sua fala, suas ideias batidas. Temia sua transformação em realidade. Temia a realidade que trazia nos olhos, nos ombros, nas marcas do rosto. Temia sua força disfarçada de criança. O simples. Sua escrita. Sua dança. Temia-na inteira. Porque existia em si. Porque tocava o chão com pés descalços. Temia seu jeito tão seu de ser potência e realidade num só ato. Foi por isso doutor, foi só por isso que a matei e a guardei no profundo mais escuro surdo e mudo de dentro de mim.